segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O professor de nariz vermelho

(Se resume em estar lá

Manter a boa consciência

Com urgência sorrir

Decidir que o rio corre)


Alguém socorre

É a catástrofe universal.

Todo mal desafia.

Mas, ufa, tudo é só philia!


Olhos negros famintos

Olhos brancos contemplativos

Vendo os anjos e demônios

O homem de nariz vermelho faz beicinho. E:


-Tadinho. Tão amado.

-Coitado. Que azarado.

-Até quando vai ficar parado?

-Foi horrível, agente também sabe, palhaço.


E Toda a crueldade

É um saboroso ingrediente

Ao demente palhaço

Coração de doce aço.


Usa de adubo para florescer

Criar cores que dançam

Se espalham

Inspiram


Todos piram

Riem o que nunca riram

Amam o que nunca amaram

Aprendem o que não sabiam


Se incomodam e xingam também.

Mas quem é errado?

Ele ali na frente já sabe

Do erro até que vai cometer.


Alguém quer se meter?

Que se metam, que se esqueçam.

Quem tiver brincadeira na alma:

Que brinque!


Que não seja imortal posto que é chama.

Mas que seja palhaço enquanto cure.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Taturana

Taturana é como um fogo,
sobe e sobe pelo corpo.
Rasteja e rasga a minha roupa,
faz a pele virar chama
esfrega e morde, Taturana,
tanto mata quanto ama a minha dor.

Taturana em meu pescoço,
sobe e sobe pelo corpo.
Não sinto mais o verde tato
no frenesi de teus estragos.
Ferrão da fêmea mata e fica
e incha e cresce um bicho torto da minha dor.

Taturana rastejante,
Taturana esfrega e range
dentes brancos venenosos
que traem teus tão tristes olhos;
impiedosa , molha e gruda
e queima e fura a minha nuca e espalha então a nossa dor.

Taturana me dá arrepio,
Taturana está no cio.
Fecho olhos ao teu violeta,
Taturana do fogo triste.
Mas Taturana insiste e insiste,
até que aflora em Borboleta!

Uma razão para a bondade

Eu não preciso dizer a Verdade para ela ser Verdade.
E às vezes envergonho as pessoas com as palavras.
Mas prefiro aprender a me divertir mais.

Perdoe-se por ter que perdoar-se.

Perdão ao que não é amor e ao amor que ainda me falta.
Perdão pela própria feiúra antes de ser amado.
Perdão pela própria miséria para ser recompensado.
Perdão pela própria mesquinhez quem quer fartura.
Perdoe o sapo que se engole e a risada que se fecha.
Perdoe a raiva que rejeita senão torna-se bondade dissimulada e insensível.
E perdoe essa bondade senão se torna a única nobre verdade.
E perdoe isso também senão serão excessivas máscaras e você se perderá e doirá.
Mas também: perdão por sentir dor, vergonha e revolta e perdoe o mau uso das próprias palavras.
No excesso, na falta delas, na imprecisão, no volume, na solidão que elas podem acabar por nos causar e na tentativa frustrada e prazerosa de provar as suas idéias.

domingo, 9 de outubro de 2011

Francisco de Atenas - Segredos do Segredo

Aonde está escondido?
De que está disfarçado?
É fantasia, esconderijo
Na lua cheia dos mascarados

Ímpetos cortados de vergonha
Do lunático pintado na praça de amarelo
Medos da terra, segredos do enterro
Ocultos no medo do pálido espelho

Escondido na bolsa da dama
Ou na contenteza do vagabundo
Em danças celestes como chama
Queres esconder do mundo

O vazio da tua trama.
Trama.
Trama.

Os azulejos partidos rachado
Calados, esfomeados entre cortejos
Mas ainda é cedo para delicados doces beijos
Delicados doces beijos amargos

Mas ainda é cedo para delicados doces beijos
Delicados doces beijos amargos
Mas ainda é cedo para delicados doces beijos
Delicados doces beijos amargos

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Salve Aldeia de Shiva

(Mãe cigana
Pai grão-mestre xamã
Avó servente
Irmãos curadores

1000 anjos e arcanjos
Santos e santas
Pajés e curandeiros
Inimagináveis espíritos de luz são saudados)

O Grão-mestre bate nos seus tambores.
Gongos vibrantes em aura de mistério.
A tormenta, o caos, brotando espontânea
Trovões de resposta ao Universo.

É o extremo, é o instintivo
Intenso, grandioso,
Estrelar e aos aprendizes: sofrido:
Derramento de lágrimas, escarro, vômitos

Santo demônio
Reza e abençoa com força a suprema vaidade
Olhar vermelho de autoridade selvagem
É um animal insano, é uma criança linda...

Linda... Muito linda!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Próximo Passo

Amas-me de verdade
ou é tua paixão
apenas uma extensão
de boa vontade?

Menina certinha,
Pra mim tudo que será,
será apenas o que há.
Será tudo bobagem minha?

Entendes meu plano?
Sabes cuidar de minhas dores,
fazer crescer flores,
ou é tudo só um engano?

Se sentes que falho
nos sentimentos teus
não temo um “adeus”
pois não sou quebra-galho.

Mas se não for imaginário
o amor que tens por mim
Deixarei-me creer que “sim
meu mundo é extraordinário.”

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Do Riso

Consegues lembrar
d’último sincero
sorriso que tenhas
sorrido?

Quando livre te viste
de compromisso social
e do riso que riste
tão alto e desabrido
que tenhas até parecido
uma débil mental?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Refluxo de consciência

Abro o Windows e ele me diz:
-Seja Bem-Vindo!
Me admiro com a educação sem pudor.
São do computador, nem percebo que são palavras.
E clico, abro outras telas, se não são azuis, amarelas.
Hoje não tem mais travas, mas músicas, filmes e muitas taras.
Solidões e amarras.
As marras do grande.
O grande marrento.
Sedento de grande.
Subestimador do pequeno.
Confuso na própria dor.
É o gigante incolor. bicho insano.
Bicho caprichoso, bicho urbano.
E se amamos, o que temos haver com isso, o amor?
O amor, o que temos haver com isso, se amamos?
O que temos haver?

Não discutamos, algo nos chamam.
E nos chamamos,
nos chamemos e não saibamos e
no chá, mimos e sua gota de ridículo.

Sejamos sanos em cubículos?
Que ridículo.

Que sono.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sobre a genialidade humana

Explicaram-me teorias psicológicas e provaram como numa equação matemática as verdades da mente humana. E com vaga curiosidade caminhei, invés de um pirulito na mão tinha idéias sobre a psique humana em meus pensamentos e pensei, pensei, pensei, até sorri e ri daquilo que pensei.
Um homem estranho com roupas estranhas me olhou no fundo dos olhos e me disse seriamente:
-Coração... Coração... Coração... Existe vida a nossa volta!
Me emocionei com aquela genialidade.
A Maquina do Mundo

Em alguns poucos cérebros pigmeus
(um tanto quanto parecidos com o meu)
sopeado está meu futuro desvairado.
Nunca saberei, então prossigo
a tudo atento, tentando ser
pelo menos agradável.

Em algum prédio bem polido
decidiram náo comercializar a cura do câncer
por não ser economicamente viável.
Nunca saberei, então prossigo
a tudo atento, tentando ser
o mais afável possível.

Em algum computador de última geração,
jazo-me em pedaços desconectos
de crédito, altura, saúde, e nível.
Nunca saberei, então prossigo
a tudo atento, tentando ser
um pouco mais aprazível.

Em algumas noites de vento seco
ouvem os bichos
da maquina do mundo
sorvendo sangue
seu sibilante ruído.

Nunca saberei, então prossigo
(pensando estar)
a tudo atento.
Secando e sendo
mais tratável e mais ameno.